“No dia 8 de Junho Nenuco e Pastelita fizeram uma caminhada por algumas zonas menos turísticas da cidade de Coimbra, passando pela Romaria do Espirito Santo até à Mata do Choupal”
Partimos da zona da Solum subindo à Quinta da Maia em direcção aos Olivais, onde se realizava a tradicional romaria do Espirito Santo. Poucas são as semelhanças com a romaria de anos passados onde os meios de divertimento, as barracas que vendiam de tudo um pouco e os petiscos faziam as delícias de miúdos e graúdos, poucos seriam os que na saída da escola ou do emprego não dessem uma passadinha no Espírito Santo. Cada vez mais a correria do dia a dia não nos deixa tempo livre para manter estas diversões e estas tradições vão passando de moda, no entanto é bom salientar o esforço das entidades competentes que as conseguem ir mantendo, mesmo com algum esforço.
Fomos seguindo até ao Penedo da Meditação de onde se tem uma vista deslumbrante para o vale, podendo observar os automóveis apressados na circular externa, enquanto a escassos metros, as vidas pacatas das populações circundantes prosseguem indiferentes às evidências do progresso.
Passando pelo Hospital Novo e pelo Hospital Pediátrico continuamos a descer a Circular Interna até ao Jardim da Casa do Sal, ao qual fizemos uma visita. Não ficámos de todo indiferentes a uma pequena ribeira que acompanha a referida avenida, ribeira esta, que só se avista porque seguíamos a pé e de certa forma porque temos os sentidos despertos para esses pequenos pormenores, pois as canas, as silvas e vegetação diversa quase a submergem. É com alguma nostalgia que observo casas de quintas que outrora geravam movimento, onde se ouviam os gritos de crianças a brincar, agora denotam algum estado de abandono. O Jardim da Casa do Sal continua bem cuidado e pelo menos em dias de sol continua a ser agradável passear por lá com as crianças aproveitando o enorme relvado e o agradável jardim infantil, desde que nos consigamos alhear aos ruídos do progresso que passam praticamente por cima das nossas cabeças.
Em escassos minutos chegámos ao canal de rega que abastece os campos do Mondego entre a Ponte Açude e Pereira do Campo e logo nos emergimos na famosa Mata do Choupal, com o Rio Mondego correndo calmamente ao nosso lado esquerdo.
Já há algum tempo que não ia ao Choupal, fiquei um pouco decepcionada ao ver que as tradicionais pontes de madeira ainda não foram substituídas e que por esse motivo ainda não se pode circular livremente por todo o recinto e não fiquei mais animada ao evidenciar que dos WCs existentes nenhum trancava por dentro e não se encontravam nas melhores condições de higiene. Devo salientar no entanto, que se mantém o esplêndido parque de merendas com bastantes mesas e churrasqueiras, muito limpo, com água e diversos recipientes para o lixo e que os campos desportivos continuam a atrair muita gente para a prática de desporto num ambiente saudável.
Seguimos pelo arruamento principal do Choupal até chegarmos a um espaço de educação e sensibilização ambiental, onde uma mostra de instrumentos de elevação de águas para rega existentes no Baixo Mondego faziam as delicias das crianças, neste local mantinham contacto directo com a vida rural. Neste momento este espaço que era sem dúvida uma mais valia para a população escolar e para a população em geral encontra-se em elevado estado de degradação, da nora que se encontrava no canal, apenas restam algumas vigas de madeira encontrando-se muito danificada.
É de lamentar que um local emblemático de Coimbra, que sempre atraiu e atrai populações tanto para a prática desportiva como de lazer não seja alvo de investimento a fim de continuar a ser um local de referência para a cidade.
Continuamos o nosso caminho até ao Centro Hípico verificando com algum agrado que procediam à remoção das árvores caídas durante as intempéries dos últimos invernos e efectuamos o caminho de volta contra a corrente do canal de rega, regressando desta forma ao local onde iniciamos a visita à Mata.
Seguimos o Rio Mondego até ao centro da cidade e mais uma vez a decepção tomou conta de mim, pois a margem direita entre a Ponte Açude e a Estação da CP também não se encontra muito limpa de silvas e outra vegetação invasora, assim como os muros de suporte para o rio se encontram muito danificados.
Para acabar em beleza e já de carro, resolvi mostrar a cidade a partir do miradouro do Vale do Inferno, onde outrora se obtinha uma vista deslumbrante, mais uma vez a intenção saiu um pouco frustrada, pois apesar de lá continuar a vista fantástica sobre toda Coimbra, há uma quantidade de árvores e de arbustos que se atravessam no nosso horizonte ao longo de todo miradouro.
Apetece-me pôr uma questão: Será que Coimbra é só o Centro e a Alta? Será que Coimbra são só os doutores e as suas ideologias? Não será necessário investir também na preservação e conservação do seu património natural?
É com tristeza que não posso enaltecer Coimbra como fiz com outros locais que visitámos, em que a fama e a mediatização é muito inferior. Lamento ter que falar assim da terra que me viu nascer, a terra que amo e sempre amei… Quero apelar às entidades responsáveis que tratem da MINHA cidade, que não me façam ter vergonha quando quero mostrar aquilo que para mim é especial, que para mim tem uma beleza infindável e sinto que quem me acompanha se pergunta que beleza poderão ter casas velhas em ruínas, que beleza poderá ter uma ribeira submersa em canas e silvas, que beleza poderá ter uma mata degradada, mesmo que seja a mata do Choupal ou que beleza poderá ter um miradouro onde os ramos das árvores se sobrepõem à paisagem, não sendo possível tirar uma foto sem que os mesmos se intrometam…
Ao contrário dos outros textos, este foi escrito na primeira pessoa, porque este foi o meu regresso às origens, foi a mim que esta caminhada doeu e não me refiro apenas às dores musculares dos mais de 13 kms percorridos, mas sim à dor que senti a ver esta pequena parcela da minha Coimbra tão mal cuidada, até um pouco desprezada. Peço desculpa se fui dura, mas como sempre tento passar para palavras aquilo que sinto e foi isto que senti, desapontamento e tristeza.
Gostaria que Coimbra fosse abraçada como um todo e não apenas como uma cidade vocacionada para o turismo e para a universidade, para que sintamos orgulho em a mostrar a quem a conhece menos bem, para que sempre tenha encanto na hora da despedida e para quem por cá passe se sinta motivado a voltar.
Mapa do Percurso |
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